Lendo o novo livro de Patti Smith, Linha M, vejo citado pela autora o nome de um café em Paris: Le Rouquet. A princípio, o nome não me diz nada. Mas desperta, obviamente, minha curiosidade como tudo o que se relaciona com a capital francesa. Uma rápida consulta ao Google me revela uma surpresa agradabilíssima: Frequento há anos esse café e nem sequer sabia seu nome. Ele fica no Boulevard Saint-Germain, bem lá para baixo, depois de todo aquele agito turístico em torno do Flore e do Deux Magots. Ele sempre me atraiu pela discrição e pelo agradável terraço sobre o qual se distribuem mesas na larga calçada margeada por plátanos. E o melhor: Tem lugar para sentar, ao contrário dos anteriormente citados, disputadíssimos apesar de caros. Nunca comentei com ninguém que ia lá porque nem ao menos sabia o nome. Mas todas as vezes que vou para a Rive Gauche é onde me sento para comer um croque monsieur e tomar o primeiro cálice de vinho do dia, depois de descer o boulevard em direção à casa de Serge Gainsbourg para ver os grafittis da fachada. Tomei essa descoberta como uma espécie de sinal, de bom augúrio. Me envaideceu, também, compartilhar um lugar no mundo com uma artista que admiro. E fui imediatamente invadido por uma série de conjecturas: Será que eu já teria me sentado ao lado de Patti Smith sem ao menos ter me dado conta de que se tratava da autora de Só Garotos? Teria eu me sentado à mesma mesa ocupada por ela minutos antes e sentido o calor de seu corpo sobre a cadeira? Tudo é possível no mundo das conjecturas. E eu certamente não reconheceria Patti Smith, pois imagino que ela se mova pelo mundo da maneira mais natural possível nem parecendo ser a artista que é. Me dou conta de que o glamour pode se refugiar em lugares onde a maioria das pessoas sequer suspeitaria, ávidas que estão de verem e serem vistas e de consumir pagando altos preços pelas coisas mais banais. Essa constatação só reforça a ideia de que possuo, de alguma forma, uma Paris só minha. E antes que alguma patrulha me ataque já adianto: Não há nenhum resquício de exclusão social nessa minha constatação. Pelo contrário, adoro a ideia de que todos possam, pelo menos uma vez na vida, viajar até a Cidade Luz. Quando digo uma Paris só minha quero dizer uma Paris que traço a partir dos meus gostos e afinidades, das minhas descobertas ocasionais de andarilho e das minhas identificações com personalidades relacionadas a ela. E isso inclui as mais diversas camadas sociais. Como diria meu personagem Emiliano Salvatori, "do high society ao underground". Mal posso esperar pelo dia em que estarei de volta a Paris. Acho que uma das primeiras coisas que vou fazer vai ser me sentar a uma mesa desse café e tomar um porre em homenagem a Patti Smith. Como podem ver, tudo pode ser desculpa para um bebedor inveterado... Ah! Fica a dica: Linha M, de Patti Smith.
Nas fotos, o terraço à sombra dos plátanos e Patti na capa de Linha M.
terça-feira, 10 de maio de 2016
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Sua Paris é igualmente encantadora quanto à de “Giovanni’s Room” (Janmes Baldwin), tantas vezes por mim sonhada, e brilhantemente desestruturada existencialmente “daquela” do Google, que gostaria de conhecer tendo você como guia... Ah! Outro sonho! Abraços
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