quinta-feira, 14 de agosto de 2014

DESENCAIXADOS

Não tem aqueles dias em que está tudo igual, tudo certo, tudo na mesma, mas que nada se encaixa? Pois é. Nesses dias eu percebo que o que não se encaixa sou eu. Eu é que estou desencaixado. Um grande sentimento de inadequação parece me separar do resto da humanidade. Do país. Da cidade. Como pode? Até ontem estava tudo bem. Nada de significativo aconteceu. Pois talvez seja esse exatamente o problema. A ausência de eventos significativos. Vejo as pessoas todas à minha volta mobilizadas, engajadas, lutando por seus ideais, defendendo seus pontos de vista, sustentando suas opiniões e brigando por suas certezas. E como as pessoas tem certezas, é impressionante! Mesmo as que dizem não ter. A morte do ator Robin Williams me deixou meditabundo. Um pouco mais do que normalmente já sou. Ele, com certeza (olha ela aí), era um desencaixado. Quanto mais penso sobre isso, mais me dou conta de que essa inedaquação é interna. Às vezes não há nenhum motivo exterior para que ela se manifeste. O dia está lindo, o sol brilha, o céu está azul, você está em um trabalho maravilhoso, que te realiza profissionalmente e, ainda por cima, dá dinheiro, você tem alguém que te ama e que você ama também e de repente, do nada, ela surge. A i-na-de-qua-ção. Que merda. Conversando com meu amigo Gê Comini, aquele que já citei aqui no blog, com quem troco ideias sobre amenidades como a arte e o sentido da vida, conversando com ele sobre isso chegamos à conclusão de que é uma questão de química. Algum fator interno altera a química do organismo e faz com que a gente se sinta um extraterrestre. Eu nunca fiz terapia, nunca consultei um psiquiatra, mas sinto que é mais ou menos por aí. Ontem, by the way, o dia foi cinza, chuvoso e frio. Começou logo pela manhã com a notícia da morte do candidato à presidência Eduardo Campos, aos quarenta e nove anos, em um acidente aéreo. E encerrou com a morte do historiador Nicolau Sevcenko. Hoje o dia continua cinza, chuvoso e frio. Aí também não há química que se equilibre...
Na foto, Eu, Você, Nós Dois, obra de Gê Comini, também autor do título do post.

Nenhum comentário:

Postar um comentário