sábado, 30 de novembro de 2013

NOVEMBRO EXPRESS

Chuva fina sobre a cidade de São Paulo na manhã do último sábado de novembro. Do último dia de novembro que por acaso é sábado. Costumava ser my favorite day. No bairro da Liberdade, calçadas repletas de guarda-chuvas que se entrelaçam. Enroscam uns nos outros. Cada dia maiores, os guarda-chuvas. Calçadas cada dia menores. Porcelanas japonesas e chinesas. Louças de todas as cores e formatos. Lanternas. Massagens. Bom para dor de cabeça, coluna, stress. Insônia. O ovo Fabergé que tu me deste era vidro e se quebrou. O amor que tu me tinhas era louco e se internou. Só atravesso no verde. Metro lotado. Como assim, no sábado? Cortes de cabelo, tinturas. Penteados. Corta para a Rua Augusta. Restaurante a quilo: Senhores clientes, estamos abrindo aos sábados, das 12 às 15h. Minha esperança de encontrar sapato masculino número trinta e sete é a Casa Toddy. Nem lá. Copenhagen: Panettone de Língua de Gato só tem no tamanho grande, de 1kg. Como assim, dia 30? Não tem 31? O mês de novembro passou depressa demais. Fiz coisas demais, vi coisas demais. Viagens pelo interior com Brecht & Weill. Em Lorena eu surpreendi! Filmes e peças na capital. Brindes e comemorações. Como assim? Já passou? E nada fica, nada ficará? I am Divine. São Paulo em Hi-Fi. Tatuagem. Blue Jasmine. Os Belos Dias. Storynhas da Rita Lee. Canções Fatais. Cida Moreira e João Leopoldo. Trair & Coçar é Só Começar! Passe, passe, passera. La dernière restera. Assim: Num Zaz! Corta para Alameda Franca. Página em branco do blog em frente à janela que dá para a Haddock Lobo. Não vão lançar mais nada do Caio Fernando Abreu? Saudade daquela melancolia. Bienvenue dans ma réalité...

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

UM BONDE CHAMADO BLUE JASMINE

Blanche du Bois à beira de um ataque de nervos. Assim é a Jasmine de Cate Blanchett no novo filme de Woody Allen. Em algum universo possível entre Elia Kazan e Pedro Almodovar. Cuja base, évidemment, é Tennessee Williams, dramaturgo americano premiado com o Pulitzer por Um Bonde Chamado Desejo e Gata em Teto de Zinco Quente. (Os que tem menos de trinta anos, vale dar um Google). This is Jasmine: Dependendo da bondade de estranhos em pit stop na casa da irmã com direito a namorado grosseirão à la Stanley Kowalski. Em pleno colapso nervoso regado a vodka e barbitúricos. Prato cheio para uma grande atriz e armadilha fácil para jogar qualquer outra, nem tão grande, no universo dos clichês. Cate tira de letra. Arrasa. Dá show. É assim que se faz. E não me venham mais falar do Félix de Mateus Solano, ok? A dica desse fim de primavera quase verão é mergulhar no escuro do cinema e se deixar levar pelo drama de Jeanette. Digo, Jasmine. Porque as primeiras classes de hoje não são mais como as de antigamente. Porque ao som de Louis Armstrong é melhor. Porque tomando um martíni é mais fácil. Porque silêncio é fundamental. Enfim, porque ninguém é obrigado... Na foto, Cate Blanchett mergulhada no drama de Jasmine

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

LITA REE

Minha paixão per ela é antiga. Vem desde os meus doze anos de idade, quando enlouqueci com o LP Fruto Proibido, que trazia entre suas faixas aquele que seria o hino de todos os desajustados: Ovelha Negra. Desde então sou louco por Rita Lee. Na década de oitenta, por exemplo, não havia nada melhor do que não fazer nada só pra deitar e rolar ouvindo suas canções. Eu sou daqueles que morreram de ciúmes quando ela casou com Roberto de Carvalho. E agora, quase quarenta anos depois, ela reacende a chama dessa paixão com suas Storynhas ilustradas por Laerte. Uma maneira divertida e inteligente de entrar um pouco que seja em contato com o universo fascinante que é a cabeça de Rita Lee. Ou Lita Ree, como ela se refere a si própria nas storynhas. Rita é um liquidificador de tendências, um mixer de referências, um processador de idéias, imagens e estilos. Nada mais original e autêntico, filha que é da Pauliceia Tropicalista. O livro é curto, as storynhas idem. Estou lendo petit à petit, economizando, prolongando ao máximo o prazer dessa aventura. Preciso dizer que esse pequeno tesouro me foi presenteado por minha amiga Agnes Zuliani, a quem serei eternamente grato. Quem por ventura me ler, por favor, não deixe de ler a Lita. Digo, Rita. Encerro citando a própria, que já no prefácio encanta deveras o leitor ao avisar: "Meu estilo é mongo-ginasiano. Sou mediante, adepta de acêntos, hí-fens e trëmas. A nova ortografia ñ me representa. Qdo a ditadura é um fato, a resistência é um dever". E por aí vai... Na foto, Rita e Laerte embalam e babam, digo, embabam o baby book.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

CORRUPÇÃO

Com os últimos acontecimentos que tem aquecido as discussões no nosso país, desde a ida dos jovens às ruas para protestar até as mais recentes prisões dos réus do mensalão, a palavra corrupção voltou à voga. Acho que não era tão pronunciada assim desde o impeachment do Collor e seu envolvimento com PC Farias. É tanto, que ela se desgastou. Virou uma espécie de abstração contra a qual todos bradam e por cujo fim todos clamam. Acho válido. E antes que me enquadrem nesse ou naquele lado, deixo claro que meu post não é político. É, antes, meramente filosófico. Uma tentativa de reflexão sobre um conceito. Todas as manifestações contra a corrupção e a favor da sua punição são válidas. A gente só não pode esquecer que a corrupção não tem partido político: É comum a todos eles. Não é nem ao menos privilégio da direita ou da esquerda. Aliás, esses também são dois conceitos que precisam de reflexão. A corrupção não é exclusividade das elites, tampouco. Ela está presente em todos os segmentos da sociedade. Dos altos escalões da indústria e do comércio até o armazém da esquina. Dos grandes especuladores ao flanelinha que estorque dinheiro de quem só quer deixar o carro estacionado na rua. Que, por sinal, é de todos. No próprio meio artístico, ao qual pertenço, não se enganem, ela também se faz presente. Em lugares onde muitos acreditam estar a salvação, como a igreja, lá também ela está. Muitas vezes ela está dentro da nossa casa, bem na frente do nosso nariz. Os tempos estão bicudos, eu sei. E o desejo do olho por olho, da justiça com as próprias mãos ou até o simples jogar pedras, aflora com maior facilidade, antes mesmo que a gente consiga parar para refletir. Não podemos esquecer que a corrupção também aquece o mercado, vende revistas e periódicos, faz índices de audiência dispararem. Mas é sempre bom rever posturas antes de fazer alarde. De nada adianta gritar fora corruptos e sonegar impostos. Falar mal de políticos e ser inadimplente com o condomínio. Pintar a cara e sair para protestar sem cumprimentar o porteiro. Criticar a má distribuição de renda do país e pagar mal os empregados. Vamos sim acabar com a corrupção e punir todos os corruptos. Começando por nós mesmos, nossa família, nossa casa, nossos amigos, nosso trabalho, até que alcancemos nossa cidade, estado, país, continente, planeta, universo... Na foto, Chico Anysio encarna Justo Veríssimo no traço de Aroeira.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

IMBECIS QUE LEEM

Dia desses, insone em um quarto de hotel após uma apresentação do Cabarecht, fiquei procurando o que assistir na TV quando tombei sobre o documentário O Filho do Holocausto, sobre o já mitológico Jorge Mautner. Em uma das cenas, sua filha Amora conta que seu pai teria dito a ela quando era pequena: "Os homens se dividem basicamente em dois tipos: Os imbecis que leem e os imbecis que não leem. Eu espero que você seja uma imbecil que leia". E estabeleceu preços para vários clássicos da literatura que sua filha viesse a ler. Assim, Amora ganhou muito dinheiro e leu muitos livros na sua adolescência. E hoje é grata ao pai pela experiência. Eu sou um imbecil que lê. E quer saber? Para o meu gosto, acho que leio pouquíssimo. Gostaria de ler pelo menos o dobro do que leio para me considerar um imbecil digno de nota. E isso que o pouco que leio já é muito comparado ao que lê grande parte dos brasileiros. A julgar pela maneira grosseira com que agridem nossos ouvidos quando falam e o modo constrangedor com que se expressam por escrito na internet. Nem todo mundo tem um pai como Jorge Mautner, eu sei. Eu também não tive. Mas os livros estão aí, ao alcance de todos. Bem mais acessíveis do que carro importado, roupa de grife, tablets, iphones e toda essa tralha considerada indispensável por todos nós, os imbecis que leem e os que não leem também. Fica a dica. Na foto, o incrível Mautner ainda jovem e belo.