terça-feira, 31 de janeiro de 2012



ROMA NO MASP
Hoje fui visitar a exposição Roma, a Vida e os Imperadores, no Masp. Às terças-feiras a visita ao museu é gratuita e, por isso, a sala estava repleta. Fiquei um tempo na parte de cima, admirando o povo que se movimentava no verdadeiro labirinto que a exposição forma. De longe em longe, um busto ou uma figura inteira se destacava, branca, imóvel, em mármore esculpido lá na Antiguidade Clássica, antes de Cristo. Que belo contraste com as mochilas coloridas, as tatuagens, os cabelos e tênis. Depois desci percorrendo as alamedas e admirando as obras. Impossível não lembrar, ao me deparar com a cabeça de Antínoo, de Marguerite Yourcenar e suas Memórias de Adriano, livro que marcou a minha juventude em Porto Alegre nos anos oitenta... A impressionante estátua de Calígula, em tamanho natural, me trouxe a lembrança do texto de Albert Camus, que adoro e sempre sonhei encenar... Desde criança fui apaixonado por Grécia, Roma e Egito. Colecionava tudo que dizia respeito a essas civilizações. A Grécia eu já conheci, nos anos noventa, quando morava em Paris. À Roma eu quase fui, várias vezes, quando minha irmã Rita morava lá. E o Egito, será que um dia visitarei? Por enquanto, sugiro a visita a esta exposição. É impressionante ver coisas que foram feitas há tanto tempo. Dá uma sensação de continuidade, de permanência, que transcende o momento... Tem uma parede com afrescos da cidade de Pompéia, que foi soterrada pelo vulcão Vesúvio. Imperdível.
Nas fotos, o imperador Caio César, mais conhecido como Calígula e a cabeça de Antínoo, o preferido do imperador Adriano, que não era jogador de futebol.

sábado, 28 de janeiro de 2012


SHAKESPEARE PARA A JUVENTUDE
Como sou um jovem senhor de meia idade, posso afirmar que já vi muita coisa feita a partir de Shakespeare no teatro, na televisão e no cinema. E ele é, sem sombra de dúvida, um dos dramaturgos que mais permite leituras e releituras, adaptações e modernizações, dado o caráter universal e atemporal de sua obra, mais a abrangência dos temas. Já assisti a verdadeiras catástrofes cênicas - uma das quais participei como ator, mas não vale a pena citar - cometidas em nome da valorização dos clássicos e blá-blá-blá... E, claro, tive a satisfação de ver muitas empreitadas Shakespeareanas bem sucedidas. Como é o caso de R&J de Shakespeare, Juventude Interrompida, a que assisti no Sesc Belenzinho no último domingo. O espetáculo, que tem direção de João Fonseca, propõe uma feliz aproximação do clássico para o público jovem, utilizando-se de quatro atores, uma adaptação bem resolvida e um jogo cênico ágil e muito bem urdido. Mas o que realmente encanta, enleva, tira o fôlego em alguns momentos, é a interpretação de Rodrigo Pandolfo. Esse pequeno menino é um grande ator. Ele já havia me impressionado no musical O Despertar da Primavera, mas nesse espetáculo ele revela todas as suas possibilidades sur la scène, que não são poucas, apesar da tenra idade. Que grande prazer é presenciar uma performance tão virtuosa, apoiada tão somente no mais essencial dos recursos: O talento. Aliás, o enorme talento de Rodrigo Pandolfo. Prestem atenção nele. É ar-re-ba-ta-dor.
Na foto, Pandolfo e João Gabriel Vasconcelos.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012


VIVA SÃO PAULO!
Todo ano, no dia 25 de janeiro, alguma coisa acontece no meu coração... Fico lembrando emocionado da minha chegada em São Paulo, há quinze anos atrás. Ainda não havia para mim, Rita Lee, a tua mais completa... Brincadeira! Fico lembrando do quanto sempre quis viver aqui, do quanto essa cidade me faz feliz. Então hoje, mais uma vez, quero desejar tudo de bom para a Pauliceia. Que ela continue crescendo, não só geográfica e financeiramente, mas também em recursos humanos. Que seja cada vez mais aberta e receptiva a todas as etnias e diversidades. Que continue adotando gaúchos que, como eu, trocam os pampas pela selva de pedra. Que o trânsito flua, a poluição se dissipe e as águas do verão não alaguem mais as suas ruas. Que haja cada vez mais transporte público e que as pessoas o utilizem cada vez mais. Que não haja mais preconceito e intolerância. Que a Avenida Paulista seja palco só de manisfestações de amor e solidariedade. Viva São Paulo, a cidade que não para, de segunda a domingo. A cidade da Semana de Arte Moderna. Da São Paulo Fashion Week. Da Terça Insana. Viva Anita Malfati e Tarsila do Amaral. Viva o Masp e a Bienal. Viva Osgêmeos, o Nunca e todos os grafiteiros. Viva a Ipiranga com a São João, o Ibirapuera, o Anhangabaú. Viva o Edifício Italia e o Copan. Viva o Teatro Municipal, a Hebe Camargo e a Rita Lee. Viva o Ritz. A Lanchonete da Cidade. Viva o Brás e o Bixiga. Os Jardins, o Centro e a Mooca. Viva a Liberdade! Viva Brecheret! Viva Antunes e Zé Celso! Viva a deselegância discreta de todos nós, meninos e meninas de Sampa...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012


MANSARDA
Um quarto em uma mansarda. Uma janela que descortina os telhados e chaminés da cidade. O banheiro fica do lado de fora, no corredor. Mas, tudo bem. Um aquecedor, um pequeno sofá de dois lugares que se transforma em cama. Aluguél barato. A lua cheia nascendo grande e redonda, banhando de prata o céu da noite... A visão da torre que se ilumina. Todo o tempo do mundo para descobrir e redescobrir a cidade. Muita inspiração para escrever. Muitos livros para reler no original. Muitos vinhos para beber. Uma baguete quentinha pela manhã. Algumas cerejas frescas. E flores no vaso. Na vitrola, discos de Serge Gainsbourg. Nos dias de sol, Brigitte Bardot. De vez em quando subir até Montmartre para ver a cidade de cima. Ou no terraço do Beaubourg. Parar em alguma estação de metro para ouvir um quarteto ou uma orquestra de cordas. Muitos shows, peças de teatro e exposições. Alguns novos amigos. Bons e velhos amigos. Saudades e recordações... E um gato para fazer companhia. Seria pedir demais?

domingo, 22 de janeiro de 2012


CAVALOS
Meu pai adorava cavalos. Quando ele e minha mãe se casaram, nos anos cinquenta, um dos meus tios paternos (eu tinha treze!) lhes deu de presente de casamento essa tela, que foi pintada por uma artista de Carazinho, que agora não lembro o nome. Eu sempre gostei desse quadro, que ficava na sala da casa e depois mudou para o escritório do meu pai. O que sempre me agradou nessa obra, além da cena equestre em si, é o fato de ter sido pintada em preto e branco. Acho que é a única que conheci até hoje, além, é claro, da Guernica, de Picasso. Quando era criança, gostava de ficar olhando para ela imaginando que o cavalo preto, à frente da manada, era o meu pai e o protrinho ao lado era eu. Depois vinham, pela ordem, minha mãe e minhas três irmãs. Sobrava um cavalo mais atrás que, conforme a época, era a minha avó ou a nossa empregada do momento... Gosto da atmosfera da cena, que sugere uma tempestade se aproximando, a manada meio perdida mas, ainda assim, liderada pelo garanhão. Tem algo de mar, também, que acho que só eu via... Minha mãe me deu essa tela ainda em vida, mas eu nunca quis tirá-la do seu lugar de honra na casa. Só depois que meu pai e minha mãe nos deixaram é que tomei posse dessa herança. Troquei a moldura e hoje ela adorna a sala do meu apartamento, aqui em São Paulo. E eu continuo brincando de olhar para ela imaginando minha familia...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012



TRINTA ANOS SEM ELIS

Hoje faz trinta anos que Elis Regina nos deixou. Lembro tão bem daquele dia de janeiro de 1982, que parece que foi ontem. Eu já estava bastante triste por ter sido chamado para prestar o serviço militar. Cabeludo que era, tive a cabeça raspada e fiquei vários dias das férias de verão daquele ano me apresentando no quartel, onde sofria toda sorte de humilhações. No meio daquilo tudo, que já era suficientemente doloroso para mim, veio a terrível notícia: O Brasil perdia sua maior cantora, Elis Regina. Parafraseando Maysa, meu mundo caiu. Para coroar a tristeza, dias depois a revista Veja estampou na capa aquela manchete apelativa, sensacionalista e marron... Com o tempo, as coisas foram voltando ao normal. Um amigo da minha irmã falou com o pai general que mandou uma carta de Brasília e fui dispensado do serviço militar. E, de lá pra cá, eu segui firme no intuito de preservar a memória dessa que foi, para mim, a maior e melhor cantora do Brasil. Tive o prazer de assistir a três shows de Elis: Essa Mulher, em 1979, Saudade do Brasil, em 1980, e Trem Azul, em 1981. Quando fui assistir ao show Essa Mulher, em Porto Alegre, no Teatro Leopoldina, eu tinha apenas quinze anos de idade, com tamanho e aparência de no máximo uns dez, onze. Depois do show, me enchi de coragem e entrei no camarim. Elis foi uma fofa comigo e me deu esse autógrafo, que guardo até hoje e cuja foto ilustra o post. Tenho guardados, também, os ingressos dos três shows e o programa de Saudade do Brasil, a que assisti no Canecão, no Rio de Janeiro. Nunca a esqueci e nunca deixei de escutar os seus discos. Estou contando os dias para assistir ao show que sua filha Maria Rita vai fazer em homenagem aos trinta anos de sua morte, cantando músicas do seu repertório. E aguardo com muita ansiedade os materiais inéditos de shows que serão lançados, tudo em comemoração a esses trinta anos. Para mim, Elis ainda vive. Hoje já tenho quase cinqüenta, mas o menino de quinze anos que ganhou o autógrafo e falou pessoalmente com Elis, ainda vive também. Portanto, o título do post, Trinta Anos sem Elis, é apenas maneira de falar. Para mim, são trinta anos com ela... Longa vida para Elis Regina!

Nas fotos, o autógrafo no cordel de Zé Ramalho e Elis nos bastidores do show Falso Brilhante.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012


NÃO EXISTEM MAIS CRIANÇAS

Antigamente – quero dizer há vinte anos – as crianças eram crianças, os adultos eram adultos e os velhos eram velhos. Hoje, as crianças são adultos, os velhos são idosos e os adultos... Bem, os adultos pensam que são jovens... Falo por mim. Pra começo de conversa, as crianças estão crescendo cada vez mais depressa. Todo mundo que a gente viu nascer já está se formando, casando, tendo vida própria e sendo dono do próprio nariz. Todos os nossos ídolos de infância já passaram dos sessenta e a gente, que já está de cabelos brancos, não pode nem dizer a eles que é seu fã desde a infância, pra não correr o risco de ofendê-los, pois os sessentões de hoje tem, ou buscam desesperadamente ter, aparência de quarentões. As crianças estão cheias de opiniões sobre tudo, frequentam teatro, restaurantes, se vestem, pensam e agem como adultos. Acho um porre escutar gente de nove anos emitindo pareceres cheios de expressões como: Na verdade, curioso, absolutamente, bacana, apropriado, pitoresco, genial, e por aí vai. Atrizes e atores mirins dão entrevistas na TV dizendo que seu personagem no filme, minissérie ou novela foi um “presente” do diretor ou do autor, a quem geralmente se referem usando somente o primeiro nome ou um apelido. Algo como: Adoro as novelas do Maneco! Ou: O Jorginho me deu muita força. O melhor é quando dizem que atualmente estão sozinhas, ou seja, não estão namorando ninguém. Ou ficando. E eu não consigo me convencer de que já sou um senhor de quase cinquenta anos. Continuo agindo e me vestindo como se tivesse vinte e poucos... Às vezes sinto que vivo uma adolescência retardada, espécie de puberdade da maturidade. É quando se perde um pouco a noção de quem se é: Você acabou de ficar adulto e já está começando a envelhecer, pois, como falei no início, todo mundo que a gente viu nascer já está etc... Por que tudo está passando tão depressa? Por que sinto sono tão cedo? Por que não suporto mais barulho, fumaça de cigarro e luzes estroboscópicas? Por que crianças gritando me irritam? Fica a questão...

Na foto, eu criança vestido como tal.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012


MULHERES INSANAS
É hoje à noite a estreia do show Mulheres Insanas, no Teatro Italia, com Grace Gianoukas, Agnes Zuliani e Mila Ribeiro, integrantes do projeto Terça Insana, no qual permaneci por oito anos. Essa curta temporada de um mês também traz no saguão do teatro uma exposição de fotografias, objetos e figurinos que recontam a trajetória de dez anos do projeto, lembrando seus ex-integrantes e personagens marcantes. Poderão ser vistas, por exemplo, fotos da impagável Irmã Selma, inesquecível criação de Otavio Mendes, e o deslumbrante vestido da milionária Sheyla, personagem do camaleônico Luiz Miranda. Tem até um manequim vestido com a minha Betina Botox! O espetáculo fica em cartaz de sextas a domingos até meados de fevereiro.
Boas risadas para começar o ano. Quer programa melhor?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012



AMY, FRIDA KAHLO & PEDRO ANDRADE...
Não é à toa que a internet fascina as pessoas no mundo inteiro. Diria, no planeta. Dia desses, visitando thelifeisnice.tumblr.com, recomendado pelo Face-friend Pedro Andrade, me deparei com a imagem que me deixou sem fôlego: Amy Winehouse transmutada em obra/retrato de Frida Kahlo. Tudo parecia estar conectado, de repente as coisas começavam a se encaixar de maneira inaudita! Logo nesse início de ano, cuja trilha sonora constante tem sido o novo CD de Amy. Logo Frida, de quem sou fã desde os oitenta, quando a descobri por acaso em uma matéria da Revista Claudia... Da Claudia para a biografia, os diários, e, mais recentemente, as fotografias, foi um pulo. E, num piscar de olhos, o mundo pop se rende à pintora mexicana, com Madonna querendo vivê-la no cinema e Salma Hayek, bem mais apropriadamente, conseguindo. E logo o Pedro Andrade, de quem sou grande admirador pelo talento, cultura, inteligência, desenvoltura e, claro, pela beleza. Faz tempo que venho dizendo que quero ser como o Pedro quando crescer. Explico: É que apesar de ser bem mais velho do que ele, eu tenho apenas um metro e sessenta de altura. Ou seja: Ainda não cresci... Quem sabe um dia eu chego lá? Adoraria fazer o que Pedro faz, só que em Paris. E, assim como Lucas Mendes o apresenta como o melhor guia de Nova Iorque, eu seria apresentado como o melhor guia de Paris. Que tal? Mas isso é só para quando eu crescer...
Por enquanto, se joga lá: http://thelifeisnice.tumblr.com

terça-feira, 3 de janeiro de 2012


TRÊS
Não dá para dizer que nada acontece nesses primeiros dias do ano, quando São Paulo está praticamente deserta, quase não há trânsito nas ruas e nem filas nos restaurantes. A temporada de cinema, por exemplo, (digo, a minha) começou abrindo 2012 com o pé na porta. Ontem fui assistir ao filme alemão Triângulo Amoroso, do mesmo diretor de Corra, Lola, Corra, Tom Tykwer. Ainda estou sob efeito da inusitada película. De forma direta e no mínimo corajosa, o filme explora possibilidades de amor, sexo e relacionamentos, indo muito além dos estereótipos e do que já está catalogado como possível nessas áreas. De forma inteligente e instigante, o filme derruba classificações já um tanto obsoletas como dividir homens e mulheres em categorias como héteros ou gays... Vale o questionamento. Vale, também, a modernidade do filme, tanto no tratamento das imagens, quanto na forma criativa com que desenvolve o roteiro. E vale, principalmente, pela satisfação que o filme provoca ao revelar que ainda há o que ser dito e de forma original.
O que já não é pouca coisa...

domingo, 1 de janeiro de 2012


FELIZ ANO NOVO
Chove sem parar em São Paulo no primeiro dia de 2012. Sentado ao computador, de frente para a janela, relembro meu último dia de 2011... Foi um dia pleno de atividades. Fui às compras, supermercado lotado, filas enormes nos caixas, carrinhos abarrotados como que para uma guerra. Cozinhei lentilhas, fiz sanduíches. Tentei lembrar uma receita de sanduíche de pepino que aprendi há anos atrás com a Graziela Moretto. Como não lembrava, recorri ao Google. Além dos de pepino, fiz também sanduíches de atum e de salmão defumado. Mandei e recebi mensagens, fiz e recebi telefonemas. Decorei a casa, enchi a sala de velas e brilhos, tudo o que tinha de branco, prata e dourado. Weidy trouxe flores lindas, palmas-de santa-rita vermelhas e amarelas. Coloquei champanhe no gelo. Às dezenove horas abri a primeira garrafa... Enquanto bebia, a chuva caía sem parar - como podem ver, desde ontem - e o Weidy dormia, todo vestido de branco, no sofá da sala. O ano passado passava na minha cabeça. Qual filme. Uma comédia francesa. Sabe? Leve e, ao mesmo tempo, intensa e cheia de referências culturais... Discotequei infindáveis CDs, relembrando coisas inenarráveis. Depois subimos, debaixo de chuva, até a esquina da Paulista para ver a queima de fogos... E querem saber de uma coisa? Fui um bom menino o ano inteiro... Mereço um 2012 maravilhoso! Feliz Ano Novo para todos nós!
Na foto, detalhe da decoração de Ano Novo.