sábado, 20 de julho de 2024
UIVO POÉTICO-MUSICAL
Existe vida em Marte? Esse é um dos questionamentos levantados por Cida Moreira e Helio Flandres no show Uivo, a que assisti essa semana na adorável casa de shows Bona aqui em São Paulo. A pergunta refere-se à canção Life on Mars, de David Bowie, e o título do show, evidentemente, ao poema de Allen Ginsberg. É por aí que o roteiro de Cida e Helio trafega, trazendo junto Angela Ro Ro, Jards Macalé e Wally Salomão, composições do próprio Helio mais Eduardo Dusek, Brecht/Weill e muito mais. Cida no piano, Helio no trompete, harmônica e violão. Impossível não embarcar nessa viagem repleta de referências a todos os rebeldes & malditos (para citar a famosa coleção da editora L&PM dos anos oitenta). Cida Moreira, inspiradíssima, diz gostar de dividir o palco com jovens artistas porque quando achou que iria ensinar alguma coisa foi quando começou a aprender. Mesmo assim nos brinda com sua aula magna de atuação musical performática. Helio, reverente à mestra e referência inspiradora, encanta com sua explosão de talento e vigor cênico/musical. Cida, a mestre de cerimônias do cabaret. Helio, o chansonnier. Garçon, mais um drink por favor! Eu vi as mentes mais brilhantes da minha geração destruídas pela loucura, diz o poema de Ginsberg. Cida enaltece os representantes da contracultura, contra tudo, contra os bonitinhos, os certinhos, os enquadrados. Até que a noite termina com o belíssimo Youcali Tango, de Brecht e Weill, em belíssimo dueto... Tudo já foi dito sobre Cida Moreira, por mim inclusive, minha musa master, salve, salve! Mas é preciso que se diga sobre Helio Flandres: Uma mistura de Chet Baker com Tito Madi; pensando bem, não, porque eles cantavam mais suave e Helio tem vozeirão. Mas não é um vozeirão à la Nelson Gonçalves ou Orlando Silva e sim um vozeirão moderno, possível e contemporâneo. Sem falar que toca o violão com uma malemolência, as mãos deslizando sobre o instrumento. E os dois (Cida e Helio) tem química, ah como tem… Então assistam, assim que for possível, a esse incrível encontro musical e performático. De preferência em uma casa como o Bona, onde a gente pode beber durante o show. Tenho certeza que serão tocados de forma indelével…
Nas fotos, feitas por mim, Cida & Helio em P&B, que acho mais chic.
terça-feira, 9 de julho de 2024
SAMBA-CANÇÃO
Me desculpem, queridos leitores. Sei que ando ausente do blog. Crises. Pessoais. Sociais. Mundiais. Crise é o que não falta, né? Sem falar na crise da terceira idade, que venho vivendo na pele (literalmente rs)... Hoje eu quero a rosa mais linda que houver. Quero a primeira estrela que vier, para enfeitar a noite do meu bem. A verdade é que estou preso na leitura de A Noite do Meu Bem, A História e as Histórias do Samba-canção, do incomensuravelmente superlativo Ruy Castro, salve, salve. O livro - melhor seria dizer o tratado - remete a um Brasil glamurizado pelas referências do cinema americano, do jazz e dos night-clubs, nos quais a vida dos bacanas começava às sete, oito horas da noite e só acabava na manhã do dia seguinte. Nesse interregno desfilavam os maiores talentos musicais possíveis e imagináveis, gente da melhor estirpe, coisa rara nos dias de hoje. Do naipe de Dolores Duran, Dorival Caymmi, Dalva de Oliveira, Nora Ney, Dick Farney, Johny Alf, Tom Jobim, para citar apenas alguns. As boates bombavam (para usar uma expressão atual) e o Rio de Janeiro tinha tantos jornais vespertinos e matutinos que seria impossível alguém conseguir ler ou assinar todos eles. Não haveria horas suficientes no dia para tanta leitura. Bem diferente de hoje em dia, não? Mas aí já seria assunto para um outro post... O fato é que a leitura desta obra, além de me manter preso a ela, me prendeu também no álbum de Maria Bethânia chamado Recital na Boate Barroco. Ouço esse disco repetidas vezes ao longo do dia. O clima das boates de Copacabana (assunto central da obra de Ruy Castro) está todo nele representado. As letras das canções reforçam tudo o que o livro retrata. Claro que a vida segue e eu também a vivo em toda a sua plenitude de banalidades. Das mais relevantes às mais comezinhas. Vou à academia treinar, faço supermercado, pago contas, cozinho, lavo muita louça e também me propicio alguns pequenos deleites como drinks, shows e peças de teatro. (Por falar em peças de teatro, não aguento mais atores e atrizes globais falando que "os teatros estão lotados, fervendo no Rio e em São Paulo". Lotados para eles. Para os mortais que só fazem teatro eles continuam vazios). Como podem ver, de tédio não morrerei, definitivmente. Não enquanto o sistema capitalista me permitir trocar dinheiro por cultura, arte, gastronomia, turismo (cada vez menos), drinks e toda a sorte de entretenimento... Diferentemente de Dolores Duran e companhia, que morriam cedo de tanto fumar e beber noites afora, eu pretendo esticar a minha permanência por aqui. Pois, como diz o samba-canção Se o Tempo Entendesse, de Marino Pinto e Mario Rossi: "Odeio os ponteiros que correm se estamos perto, odeio os ponteiros que param se estamos longe. As horas torturam quem ama, correndo ou custando a passar. Se o tempo entendesse de amor devia parar"... Por enquanto era isso, queridos leitores. Aos poucos, se Deus quiser, vou voltando a dar as caras por aqui. Bom inverno a todos!
Na foto, Dolores Duran, nossa Ammy Winehouse que morreu aos 29 aninhos de pura boemia.
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