segunda-feira, 24 de junho de 2024

DIÁRIO DA PRAIA

Viemos passar o aniversário do Weidy na praia, em Camburi, no litoral norte de São Paulo. É uma praia que amo e que frequento há muitos anos, desde que me foi apresentada por minha amiga Cátia, que era garçonete do Ritz e se mudou para cá. Desde que vim visitá-la pela primeira vez me apaixonei; hoje a Cátia mora na Austrália e eu continuo vindo para Camburi sempre que posso… A praia nessa época do ano - inverno, teoricamente - é bem mais low profile do que no verão; mais tranquila, menos gente e, consequentemente, menos mau gosto. Uma coisa que adoro em Camburi é que as cadeiras de praia e os guarda-sóis são gratuitos. Você pode usar à vontade e paga somente o que consumir na barraca. Acho digno. Diferente do Rio de Janeiro, por exemplo, onde você mal coloca o pé na areia e já é extorquido… Aqui em Camburi a praia é monitorada e aquelas odiosas caixas de som são proibidas. Foi com incontida felicidade que presenciei um dos monitores da praia abordar um grupo que se instalara perto de mim com uma delas em alto volume logo cedo pela manhã e obriga-los a desliga-la. Ainda existe esperança na humanidade… As mães de família usam biquínis enfiados no rego, com a bunda toda de fora, e todo mundo acha normal. Ninguém tem problema nenhum de explicar para as crianças porque a mamãe ou a titia estão com a bunda de fora. Essas mesmas mamães e titias acham Madonna pornográfica e imprópria para menores. Até concordo, Madonna nunca foi Xuxa para baixinhos; mas aí é uma questão de controlar o que as crianças podem ou não assistir; pelo menos ela não fica se expondo na praia, impondo suas partes pudendas a quem quiser apreciar… Em um passeio que fizemos a um parque de cachoeiras na praia de Boiçucanga, que fica aqui ao lado de Camburi, encontramos um grupo de rapazes gays bem jovens, provavelmente estudantes universitários, que me surpreenderam pela simpatia e bom gosto. Me pediram para fotografa-los e, quando pensei que me dariam um iPhone última geração, um deles me entregou sua máquina fotográfica! Achei chic e vintage. Esse mesmo grupo, ao nos encontrarmos pela segunda vez, ouvia Evinha no celular. De novo chic e vintage. De novo esperança na humanidade… Comemoramos o niver do Weidy com fogueira, cachorro-quente, bolo, espumante, paçoca e pé-de-moleque. Bem no estilo festa junina, já que ele faz anos no dia de São João... E assim passam os dias, com muito sol e temperatura amena, e as noites, com muitas estrelas, lua cheia e vento tépido. Mais ou melhor eu não podia esperar… Nas fotos, registros do meu celular à beira-mar.

domingo, 16 de junho de 2024

ADIEU, FRANÇOISE HARDY!

Abro o instagram pela manhã e uma postagem dos artistas/fotógrafos franceses Pierre et Gilles apresentava uma imagem belíssima da cantora Françoise Hardy ainda jovem ao som de seu hit Comment te Dire Adieu. Volto no tempo não sei quantas casas... Eu morava na rua Garibaldi, em Porto Alegre. Meu professor Alziro Azevedo morava na Santo Antônio, paralela à minha rua. Alziro tinha uma invejável coleção de LPs. Dentre eles, um especial para mim, de Françoise Hardy. Eu já era louco por ela desde a mais tenra idade, quando escutava La Question, trilha sonora de alguma novela da minha infância, na rádio Cristal de Soledade, provavelmente no rádio da Variant do meu pai estacionada em frente à nossa casa. Ou no meu toca-fitas, que registrava tudo o que a rádio tocava, inclusive alguns comerciais... Depois, muito depois, já na Paris dos anos noventa, eu descobri que a canção Comment te Dire Adieu, que eu amava na versão de Jimmy Somerville com os Comunards, era também um hit dela dos anos sessenta... Pois o saudoso professor Alziro me emprestou esse LP de Françoise Hardy que gravei em fita K7 (mileniuns, por favor, dêem um Google) e essa fita me acompanhou por muito tempo no Walkman (Google again) por onde quer que eu fosse... Françoise Hardy nos deixou essa semana. Todos os meninos e meninas da minha idade choram a sua partida. Tous les garçons et les filles de mon âge font ensemble des projets d'avenir. Et les yeux dans les yeux et la main dans la main... O mundo anda chato, careta e dividido. Direitos a duras penas conquistados estão correndo o risco de serem extintos. Tentativas de retrocesso encontram cada vez mais espaço para se estabelecer. E a cidade de Paris está cada vez mais distante do meu sonho de jovem: Ano que vem fará dez anos que não a visito... Ícones do pensamento liberal e progressista nos deixam a cada dia. Artistas perdem cada vez mais importância na sociedade de consumo. O que será que vamos idolatrar no futuro? Ou quem? Jovens milionários? Influencers? Tiktokers? Tenho até medo de imaginar... Para terminar citando Françoise Hardy, espero ter o coração feliz sem medo do amanhã... Na foto, la jeune Françoise par Pierre et Gilles.