segunda-feira, 28 de abril de 2014

ILHA DA MAGIA

Pelo segundo ano consecutivo decidi passar o meu aniversário em Florianópolis, a Ilha da Magia. Tenho uma ligação antiga com essa cidade que vem da minha juventude, quando adorava passar o carnaval lá e prolongar o máximo possível minha permanência. Isso quando eu ainda morava em Porto Alegre. Depois, com o passar dos anos, Floripa se tornou um destino de trabalho, onde eu ia pelo menos uma vez por ano me apresentar com a Terça Insana. Desde o ano passado, quando a escolhi para passar os meus cinquenta anos, retomei minha ligação mais pessoal e afetiva com a cidade. E tem sido muito bacana. Florianópolis me acalma, me reconecta comigo mesmo, com aquele que fui e com o que me transformei. Sua beleza é sempre inspiradora. Seus entardeceres, inesquecíveis. Suas praias paradisícas, inebriantes. Não dá vontade de voltar para casa. Mesmo sozinho, me sinto acompanhado. E na melhor companhia: A minha própria e a da cidade. E também, é claro, das lembranças de tudo o que já vivi por lá. Os amigos que fiz, os bares e festas que frequentei, as histórias que protagonizei ao lado de pessoas queridas como o meu inesquecível e saudoso amigo Marcelo Pezzi... Adoro fazer todos os programas, mesmo que pela enésima vez. Comer o pastel de camarão do Box 32, no Mercado Municipal, por exemplo, sempre me anima. Ir até Santo Antonio de Lisboa para comer ostras e beber vinho de frente para o mar é um programa que abastece a alma. Volto todo recarregado, reenergizado e refeliz. Tomara que eu sempre possa regressar a esse lugar encantador... Na foto, Santo Antonio de Lisboa pelo meu olhar.

sábado, 26 de abril de 2014

LA CAVE GASTROBAR

Sempre acabo sendo atraído, direta ou indiretamente, para coisas relacionadas à cultura ou à gastronomia francesas. Foi assim que descobri em Florianópolis o simpaticíssimo bar à vin La Cave Gastrobar. Com o intuito de tornar acessível o hábito de se beber vinho, o La Cave serve a bebida em taças. Ótimo. Assim pode-se experimentar vários. E enquanto bebe a gente aproveita para degustar as deliciosas tapas que, apesar de terem esse nome, tem ispiração na gastronomia francesa. Explico: Um dos proprietários, Gustavo, é brasileiro e me contou que morou dez anos na Espanha. Lá ele conheceu seu futuro sócio, que é francês. Aí deu-se a mélange. Comi a tartine de cogumelos orgânicos mistos com jamon serrano. Muito bom. Em seguida resolvi experimentar o carpaccio de polvo. Sublime! E como os bons momentos cheios de energias positivas atraem ainda mais coisas boas ao que já estava bacana, teve início uma apresentação/degustação de vinhos do Vale do Loire para alguns seletos convidados e eu, como já estava best friend do Gustavo, acabei tendo o privilégio de participar. Degustei, entre outros, um maravilhoso sancerre, vinho branco que sempre tomo em Paris e que é um dos meus preferidos, e um poully-fumé, paixão à primeira sorvida. Para encerrar os trabalhos pedi o ceviche de atum, que também adorei. Foi uma excelente fin de l'après-midi. E atenção meninas, o Gustavo é uma espécie de Cauã Reymond envolto em uma aura da mais pura e expontânea simpatia. (E com meninas eu quero dizer as meninas em si e as bees, é claro). De tirar o fôlego. Então, se você estiver de passagem por Florianópolis, não deixe de conhecer o La Cave Gastrobar. Santé!

quinta-feira, 17 de abril de 2014

AMORIM CHÉRI BISTRO

Discretamente localizado na rua Augusta, quase na esquina da Alameda Franca, a rua onde moro e onde fica o Ritz, encontra-se o Amorim Chéri Bistro. Já faz um bom tempo que o frequento, mas nunca fiz muito alarde porque tenho medo que o descubram e ele se transforme em um daqueles hot spots que a gente precisa ficar esperando horas na fila para sentar. Quando estou melancólico, sentindo muita saudade de Paris, entro lá, peço uma taça de Bordeaux (15 reais)e esqueço que do lado de fora São Paulo não pode parar. A começar pela decoração, o Amorim é um petit morceau, um pedacinho de Paris na Pauliceia. Das casseroles pilotadas pelo chef Valter Rosa saem deliciosas combinações de França com Brasil. E a cereja do bolo: A pâtisserie da chef Flavia Amorim. Se você ainda não havia viajado, ela te teletransporta para a França no ato e sem escalas. Digna das melhores confeitarias da Cidade Luz. O mil folhas feito na hora com a casquinha brulé que o diga. Como já disse, não quero fazer muito alarde. Mas, como sei que meu blog não é nenhum best seller, posso dividir com meus leitores essa pequena maravilha quase escondida no coração dos jardins. Uma pena que ele não fique aberto à noite, para a gente jantar, beber vinho e delirar ao som de Piaf e Serge Gainsbourg. Fica aberto até as oito, o que permite um interessante happy hour à la française. Se estiver de bobeira em São Paulo, batendo perna nos jardins, saia do óbvio: Vá ao Amorim! A foto que ilustra o post é uma das tantas que fiz do Amorim no meu Instagram.

terça-feira, 15 de abril de 2014

DE OLHOS BEM ABERTOS

Já faz quase uma semana que assisti ao belíssimo filme Hoje eu Quero Voltar Sozinho e ainda me encontro sem muitas palavras para descrevê-lo. Por isso escolhi essa foto que ilustra o post, no melhor estilo "uma imagem fala mais do que mil palavras". E não há realmente muito a ser dito sobre ele, a não ser que deve ser assistido. Por todos: Pais, filhos, irmãos, amigos, professores, vizinhos. E não apenas com os olhos mas, principalmente, com a mente e o coração abertos. A cegueira do personagem principal é bastante emblemática e remete à nossa própria, muitas vêzes disfarçada de preocupação com os outros, com os filhos, alunos, amigos, mas geralmente uma cegueira egoísta e carregada de medo. Medo de ver a vida como ela de fato é. Diferente do que nos foi ensinado, pregado, passado de geração para geração. Um recado importante nessa época estranha que estamos vivendo, na qual as trevas insistem em se sobrepor à luz e o retrocesso teima em blindar o avanço das ideias. Principalmente porque esse recado vem embalado pela graça, a beleza e o frescor da juventude. Ah, a juventude. Temos sempre tanto a aprender com ela...

sábado, 12 de abril de 2014

TI TI TI

Madame Haute Couture recebe muitos convites. São jantares, estreias, coquetéis, vernissages, lançamentos de livros e bazares. Já não vai a quase nada. Nem mesmo à semana de desfiles da saison. Logo ela, outrora toujours primeira fila. Repassa todos os convites para Mademoiselle Prêt-à-Porter. Essa sim, pode-se dizer que frequenta. MPP sabe de tudo o que acontece na cidade, vai a tudo e posta tudo no instagram. É o que antigamente se chamava arroz de festa. Como hoje em dia ninguém mais serve arroz, ela seria assim uma espécie de hand food. No último evento multi-midia a que compareceu, MPP apaixonou-se por Monsieur Veste Noire. Só que ele nem tchum para ela. MVN é uma espécie de entidade festiva. Se ele não comparece, o événement não acontece. Ou, como se diz atualmente, não bomba. Dizem as más línguas que MVN vive dos eventos que frequenta. Literalmente: É só o que come e bebe nos dias atuais. Mas só as muito más, pois não é verdade. Madame Haute Couture sente muito, mas hoje não estará disponível para o brunch. Nem para o happy hour de logo mais. Tampouco para o jantar. MHC vai ficar nos seus aposentos ouvindo Cole Porter. E quem ousar bater de frente levará tiro, porrada e bomba. Fica a dica... Na foto, Monsieur Veste Noire à côté du Beaubourg por Yohji Yamamoto.

terça-feira, 8 de abril de 2014

OCUPAÇÃO ZUZU

O Itau Cultural está apresentando uma importante exposição sobre a vida e a obra de Zuzu Angel, a primeira estilista a levar o nome do Brasil para a moda internacional e trazer para cá o conceito de fashion designer. Muito já foi dito sobre essa figura emblemática na luta contra os desmandos da ditadura militar que assombrou o país por negros vinte anos. Mas nada resume tão bem e de forma tão poética essa personagem da nossa história quanto a canção Angélica, de Chico Buarque, cujos versos cantam: "Quem é essa mulher que canta sempre esse estribilho. Só queria embalar meu filho, que mora na escuridão do mar"... A mostra traz no andar térreo um ambiente decorado com as mesmas nuvens de acrílico que adornavam a famosa loja da estilista no Leblon, no qual pode-se percorrer através das paredes uma linha de tempo que resume os principais fatos da vida e da carreira de Zuzu. No primeiro andar pode-se ver muitas de suas criações como vestidos, croquis, desenhos, estampas e camisetas. E fotos. No subsolo, dedicado ao luto da estilista e à sua busca desesperada e aguerrida pelo corpo do filho morto pelos militares, as criações em negro, cartas e fotos de Stuart Angel. Eu não gosto de fotografar exposições. Prefiro apenas apreciar o que está sendo mostrado. Quando vou a museus também não o faço. Aliás, acho irritante essa nova febre de fotografar tudo o tempo todo. Acho mesmo uma falta de respeito, uma banalização da obra e do artista. Por isso, pensando no post que publicaria no blog, fotografei apenas o neon que fica na entrada do segundo piso, uma reprodução do que decorava a fachada da loja de Zuzu no Rio. Quem estiver em São Paulo ou vier visitar a cidade até 11 de maio não deve deixar de conferir Ocupação Zuzu. É imperdível.

domingo, 6 de abril de 2014

CASAL

Em uma casa simples e confortável vive um casal absolutamente normal, que não perde a novela e o telejornal. Na sala, jogo de sofá de dois e três lugares, mesinha de centro e televisão. Na parede, ao redor da foto do casal, fotografias de familiares: Pais, sogros, irmãos, cunhados, filhos, sobrinhos e netos. Estão casados há trinta e um anos. Ano passado comemoraram bodas de pérola. O casal costuma jantar cedo, ver um pouco de televisão e, antes das onze, dormir. No quarto, o Cristo jaz crucificado na parede sobre a cabeceira da cama. Nos finais de semana, a coisa se estende um pouco mais: Tomam uma cervejinha e ficam acordados até mais tarde. Ela gosta de assistir ao Serginho Groissman. Ele, gentil, acompanha. Gosta de ver a Laura Miller falando sobre sexo. Aos domingos eles fazem churrasco e convidam o casal que mora na casa ao lado. Os homens se encarregam da carne e as mulheres, da maionese. E de arrumar toda a bagunça, que faz parte do programa e é quando elas aproveitam pra colocar a conversa em dia. Os filhos cresceram, casaram e foram viver as suas vidas de casais em outras casas. Os filhos do casal que mora na casa ao lado idem. O casal faz planos de ir morar no litoral assim que ele se aposentar. O casal que mora na casa ao lado também. Todos os anos no Natal eles enfeitam a casa com luzinhas coloridas que contornam a fachada e o jardim. E os dias e noites se sucedem tranquilos, sem nenhuma alteração. Sobre a mesinha de centro repousa um vaso com arranjo de flores artificiais...

terça-feira, 1 de abril de 2014

CARTA A UM JOVEM CANTOR

A menção a Rilke fica apenas no título, pois não pretendo, como ele fez ao jovem poeta, desencorajar o jovem cantor. Pelo contrário. Minha intenção, assim como cantou Milton Nascimento na sua Carta a um Jovem Ator, dirigida a River Phoenix, é justamente enaltecer esse talento emergente da nossa música popular. Estou me referindo a Rodrigo Vellozo, o filho de Benito de Paula. Chamá-lo de cantor é reduzir. Rodrigo é um artista: Compositor, instrumentista, excelente cantor e pianista. Já me referi a ele aqui no blog há alguns anos. Mas minha admiração foi, digamos, reaquecida nesse último fim de semana, quando tive a oportunidade de assisti-lo tocar aqui em São Paulo, no Teatro Décio de Almeida Prado. Emocionante, para dizer o mínimo. Esse show mescla canções do primeiro e do segundo CDs do cantor e apresenta suas novas composições, que irão integrar o próximo álbum. Já estou contando os dias para o lançamento. Rodrigo traz delicadeza, inspiração, poesia à nova música popular brasileira. Seu samba, como ele próprio define, é de câmara. Beira o jazz. Remete à elegância de Paulinho da Viola. Sua música tem sofisticação, uma raridade no cenário musical de hoje. Ele emociona ao ler trechos da obra de Caio Fernando Abreu e Luiz Fernando Veríssimo, dois escritores que admiro e dos quais me orgulho, afinal, sou gaúcho. O universo poético no qual esse jovem músico transita surge como um agradável contraste às dissonâncias vulgares que infestam nossos ouvidos nesses tempos de lepo lepo, tchê-re-rê, tchum, tchá, pagode e sertanejo universitários. Que de universitários não tem nada, é bom lembrar. Eu não sei porque ele ainda não aconteceu. Aliás, sua canção "Aconteceu" é a cara de Ney Matogrosso, ele deveria gravar.... Sua música não está nas trilhas das novelas, ele não está nas capas das revistas. Uma pena, deveria estar. Pois, se todo o seu enorme talento não bastasse, para completar ele é simplesmente lindo. "E eu me sinto enfeitiçado, correndo perigo" (para terminar citando Rita Lee). Em bom português: É coisa fina. O garoto foi bem criado, bem educado, bem instruído, tem excelente formação musical, tem cultura e usa tudo isso a favor da música. Vai querer perder?