segunda-feira, 28 de novembro de 2011





ENCORE RIO...
Ainda no Rio. E ele não pára! Sábado à noite teve a inauguração da árvore de Natal da Lagoa, com direito a show de Gal Costa e Frejat e queima de fogos de fazer inveja ao Révéillon. Gal e Frejat vimos/ouvimos do telão, tal a quantidade de gente se espremendo na direção do palco. Mas os fogos foram mesmo de emocionar. Depois, jantar japonês no restaurante Manekineko, o gato da sorte, em Ipanema, deliciosa combinação de sabores que traz a cozinha tradicional japonesa para o Brasil da atualidade com ares de world cuisine. Domingão sem sol, teatro no fim da tarde na Maison de France, com Emilinha e Marlene, musical animadíssimo que transporta espectadores para o auditório da Radio Nacional, onde as disputas de torcidas das duas divas da canção transcorriam aos gritos e ovações. Recomendo! Mas como nada acaba assim, no mais, La Fiorentina para fechar os trabalhos. Sim, ela continua lá, firme e forte na praia do Leme, com Ari Barroso recebendo na claçada, eternizado em bronze para deleite de turistas fotografantes. Como eu, bien sur. Eu comi o Marco Nanini e a Shala, o Rodrigo Santoro. Explico, para desavisados: Os pratos do La Fiorentina levam nomes de atores e atrizes, tá? Escrevo na chuvosa manhã de segunda-feira, que não deu praia. Mas ainda tenho muito o que fazer por aqui. À tout à l'heure!
Nas fotos, Shala brinca de pin-up na Fiorentina, la Maison de France e fogos na Lagoa.

domingo, 27 de novembro de 2011


MINHA AVÓ

Minha avó materna se chamava Adelaide. Mas todos a chamavam de Laida. Nós, os netos, a chamávamos de Vó Laida. Seu marido se chamava Democratino. Mas todos o chamavam de Democrata. Ou Demo. Nós, os netos, o chamávamos de Vô Democrata. E assim a vida ia passando... Eu adorava passar os fins de semana na casa da minha vó. Morávamos mais ou menos na entrada da cidade e meus avós, no extremo oposto. Digamos que na saída. Então, no sábado depois do almoço eu pegava minha bicicleta Tigrão verde (Depois substituída por uma Monareta vermelha), minha mochila com pijama, escova de dentes, alguma roupa e livros para fazer os temas de casa e atravessava a cidade feliz da vida com a aventura... Tudo era divertido na casa da minha vó. Era uma casa de madeira, de dois pisos. No andar superior, por onde se entrava, tinha o quarto dos meus avós, a sala, um quarto de hóspedes de solteiro e um quarto de hóspedes de casal, onde eu dormia. Uma cama de casal inteira, só para mim! Tinha um armário com espelho na porta e uma cômoda com tampo de mármore. Gostava tanto desse quarto que herdei o armário e a cômoda. Mas, como não tenho espaço para eles no meu apartamento, ficaram com minha irmã Raquél. Descendo a escada chegava-se ao andar de baixo, onde ficavam a cozinha, a sala de jantar, uma espécie despensa e o banheiro, que era separado em sala de banho e toilette... O supra sumo do fim de semana chez-grand-mère era ficar assistindo TV até tarde. Minha avó ficava até o encerramento da programação, o que eu quase nunca conseguia fazer, pois pegava no sono bem antes e ela me levava pra cama no colo. O encerramento da programação da TV era com uma animação de carneirinhos pulando sobre uma criança que dormia e tinha uma musica cuja letra dizia: Já é hora de dormir, não espere mamãe mandar. Um bom sono pra você, e um alegre despertar... Minha vó fumava, bebia e gostava de ler... Ou seja, era todo um universo a se descobrir, sempre encantador. Tinha, no quarto de hóspedes de solteiro, um armário biblioteca, todo envidraçado, onde ela guardava seus livros. Tinha um livro sobre nudismo que eu adorava folhear escondido para ver as fotos das pessoas peladas, o que naquele tempo era praticamente impossível, principalmente para uma criança... Dos livros a que eu tinha acesso permitido, meu preferido era As Aventuras do Avião Vermelho, de Érico Veríssimo. Lembro que numa das aventuras os personagens iam parar na lua e lá tudo era escrito de trás pra frente. E no letreiro da sorveteria, por exemplo, estava escrito Setevros... O café da manhã era outra das minhas atividades preferidas. Minha vó tomava cafés da manhã muito longos, fazendo palavras cruzadas Coquetel. Como ela era craque, fazia as mais difíceis. E eu a acompanhava com minha versão facilitada, para iniciantes, o Picolé... Minha vó tinha guardados pequenos tesouros que eu adorava pedir para que ela me mostrasse. Como a caixinha de música com a bailarina que dançava girando em frente a um espelho. Ou o boneco João Bêbado, espécie de João Bobo que a gente fazia cambalear com um copinho imantado... Quando meus avós fizeram bodas de ouro, toquei órgão na missa: A Sonata ao Luar, de Beethoven, na entrada dos noivos, e a Ave Maria, de Gounoud, na saída... Lembro até hoje do cheiro da minha vó, que eu adorava. Era uma mistura de Maderas de Oriente, da Myrurgia, com cigarro e bafo de pinga. Ah! E uma pitada de talco, da Myrurgia também. Acho que Maja. Ou Promesa... O cigarro que ela fumava era Kissme. Sem filtro... Minha vó nos levava no cinema. Viajava e nos trazia presentes que sempre eram novidades. Pelo menos para nós, que morávamos em Soledade, quase tudo era novidade. Foi com minha avó que conheci São Paulo, aos onze anos... O post está ficando longo e ainda tenho tanta coisa pra dizer sobre ela. Quem sabe no próximo fim de semana. Agora é hora de pegar a bicicleta e atravessar a cidade de volta pra casa...

Na foto, Vó Laida com sua filha Doracy, a minha mãe.

sábado, 26 de novembro de 2011




ALÔ, RIO DE JANEIRO!
E a minha temporada carioca de 2011 começou em grande estilo, com show de Dan Nakagawa e Ney Matogrosso no Studio RJ, filial carioca do paulistano Studio SP. Ambos impecáveis, Dan revisitando antigos sucessos da MPB com roupagem inédita e totalmente autoral. E Ney é Ney... Só de erguer a camiseta revelando uma segunda pele que simula tatuagens, a galera vem abaixo. O ícone do cult pornô movie francês François Sagat desfila pelas areias e ruas de Ipanema. O Mix Brasil, Festival do Cinema da Diversidade Sexual, estreou dia 24 e vai até primeiro de dezembro. Praia tranqüila, brisa amena que sopra do mar. Meu amigo Fred Mallet, devidamente adaptado aos trópicos, faz reviver no seu mais amplo sentido a expressão “Tem francesa no morro”, criando cenários para espetáculo de Gilberto Gavronski, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil... Ainda estou chegando, de mansinho, mas quero assistir pelo menos aos musicais Emilinha e Marlene, na Maison de France, e Judy Garland, o Fim do Arco-íris, no Teatro Fashion Mall. Ainda na linha francesa no morro, fui, com minha amiga Shala Felippi, ao restaurante La Fabrique, que fica no Leme, de frente para o mar, e serve uma interessante mélange das cozinhas francesa e brasileira no melhor clima descontraído chic... O Felice continua agradável, com a gerente me recebendo pelo nome, simpaticíssima, fazendo a gente se sentir em casa. O meu Ritz do Rio. No mais, corridas pelo calçadão, de Copacabana à Ipanema, porque senão não há corpinho que se mantenha... À tout á l’heure!
Nas fotos, Dan & Ney causando e Copacabana vista da pedra do Leme.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011


CRÔ
Não aguento mais ouvir o ator Marcelo Serrado declarar em entrevistas que o autor Agnaldo Silva queria que um ator hétero fizesse o personagem Crô. Como se tivesse alguma importância para compor tal caricatura o que o ator faz ou deixa de fazer na sua intimidade. Na minha opinião o personagem deveria chamar-se Ana Crô, de tão afetado e anacrônico... Mas, enfim, Marcelo é um ótimo ator e tenho certeza que comporia muito bem um serial-killer sem ter que matar ninguém. Porque um hétero faria melhor ou pior um personagem? Eu tenho a vaga impressão que, a essas alturas do campeonato, todo mundo já sabe que existem vários tipos de gays: Afetados, afeminados, completamente masculinos, das mais diversas profissões e gostos pessoais. Assim como existem os mais variados tipos de héteros: Rudes, machões, desencanados e, até mesmo, delicados e femininos. Então que importância pode ter a sexualidade do ator para interpretar o que quer que seja? Não acredito que essa tenha sido uma exigência do autor, parece mais uma desculpa do ator para deixar claro que a bicha é o personagem, não ele. Algo do tipo: Não me confunda! Mas, pensando bem, talvez essa exigência tenha sua razão de ser: Afinal, como todo mundo sabe, ou imagino que saiba, a grande maioria dos atores que interpreta galãs héteros nas novelas é gay... Será que é assim que funciona o raciocínio? Héteros são escalados para interpretar gays e gays para interpretar héteros? Que bobagem...
De toute façon, continuo não vendo sentido na afirmação.

terça-feira, 15 de novembro de 2011




ASSALTARAM A GRAMÁTICA
Nos já distantes anos oitenta os geniais Paralamas do Sucesso profetizaram, na canção que dá título ao post, a nossa triste realidade atual: Está todo mundo falando e escrevendo errado a nossa inculta e bela língua portuguesa... Assaltaram a gramática, assassinaram a lógica, sequestraram a fonética, violentaram a métrica. De tanto programas de humor insistirem em tirar sarro de personagens que falam errado, acabamos nos transformando em uma geração de descendentes de Seu Creysson. A internet, então, veio para sacramentar essa dura e triste realidade pois, por escrito, a coisa ganha ares de regra e passa a ser repetida por todos. Quando parecia que não poderia ficar ainda pior, veio um Presidente da República que também falava errado e aí liberou geral. Oficializou-se o uso inadequado do português. E a primeira pessoa do plural virou definitivamente nóis, ao invés de nós... Hoje vê-se pessoas falando errado em programas de televisão, coisa impensável há não muito tempo atrás. E não estou me referindo a gente do povo, mas a apresentadores. Créditos são escritos errados na tela, sem concordância, sem plural. Aliás, plural é uma coisa tão antiga, alguém ainda se lembra? Não vou nem ousar cobrar o uso correto da crase e da vírgula, o que já seria, nos dias atuais, uma sofisticação reservada a pouquíssimos intelectuais especialmente dedicados a estudar esses requintes de altíssimo nível. Me refiro ao básico: Nos dias de hoje, ao invés de nos dia de hoje. Demais, ao invés de de mais. Em mim, ao invés de nimim. Conosco, ao invés de com nóis. Facílimo, ao invés de facinho. De repente, ao invés de derrepente. E com certeza, ao invés do inacreditável concerteza. Mas seria pedir demais, não?
Mesmo assim, como diria Bilac, amo-te, ó rude e doloroso idioma. És, a um tempo, esplendor e sepultura...

Na foto, o acima citado poeta em si.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011




TOUJOURS DANUZA
Acabo de adquirir o novo livro de Danuza Leão, É tudo tão simples. Eu que já estava há dias sem postar nada aqui no blog, me senti completamente inspirado a escrever com o simples manuseio desse novo exemplar da sabedoria e do bom humor dessa mulher que admiro tanto. Cheiro de livro novo é sempre um deleite para o olfato. Mas o livro de Danuza parece exalar perfume francês. Graficamente, o livro é uma festa de cores e elegância, tudo obra de sua filha Pink com ilustrações da neta Rita. Ainda nem li e já adorei! As frases destacadas na contracapa são antológicas, verdadeiras pérolas da experiência de vida aliada à inteligência e ao bom humor. Sou daqueles que esperam ansiosamente o lançamento de seus livros. Conto os dias. Já tinha ido duas vêzes à livraria e ele ainda não havia chegado. Como geralmente são curtos – esse tem apenas cento e noventa páginas – fico primeiro admirando a arte, lendo as orelhas, as frases da contracapa, o índice, e imaginando o quanto irei me divertir nos próximos dias. Ou horas, pois esse acho que se lê muito rapidamente. É o caso de poupar, esticar ao máximo a leitura. Sempre admirei pessoas refinadas, cultas, educadas, viajadas e inteligentes. Danuza reúne todos esses predicados, aliados ao excelente senso de humor, com a leveza e a naturalidade de quem viveu muito. O que faz dela uma pessoa ímpar, daquelas que a gente tem que seguir. Tenho todos os seus livros e a leio semanalmente na Folha de São Paulo. Seu livro de memórias, Quase Tudo, revela um ser humano riquíssimo, com uma história de vida muito interessante, por vezes sofrida, mas sempre engrandecedora. Eu poderia ficar horas falando da minha admiração por essa mulher incrível e do sonho que tenho de um dia conhecê-la e me tornar seu amigo... Aliás, acho que ela já deve conhecer gente demais e, nessa onda de simplificação em que se encontra, nem deve querer fazer mais amizades... Dommage pour moi! O mais próximo que já estive dela foi umas fotos que fiz para a primeira coleção de sua neta Rita Wainer que é estilista. Sim, do alto dos meus modestos um metro e sessenta eu fui modelo por um dia! Fotográfico, evidentemente... Felizmente, quando cheguei agora há pouco em casa com o livro, tinha um Frascatti aberto, geladinho, me esperando na geladeira. Escrevo sorvendo refrescantes goles de vinho branco. Não sei se teria coragem de abrir uma garrafa de vinho só para mim às cinco da tarde... Quer saber? Abriria sim. Para brindar o bom gosto e a elegância de Danuza Leão. Agora dá licença que eu vou ler... À bientôt!

sábado, 5 de novembro de 2011









O CIRCO
Minha semana foi pródiga em eventos circenses, o que me deixou melancólico e cheio de recordações... É sempre emocionante esse universo que mistura risco e poesia, emoção e risadas, lirismo e miséria... Logo na segunda-feira fui assistir ao filme de Selton Mello: O Palhaço. O trailler já tinha me pegado bastante, com seu clima Bye, Bye, Brasil, Caravana Holiday, Betty Faria e Fabio Junior no auge da juventude e beleza, saudades de um tempo que já se foi e ainda está tão presente... O filme passeia por inúmeras referências de filmes do gênero, tanto circenses quanto road movies, mas traz muita emoção na exposição e composição dos personagens, tão humanos, tão possíveis, tão reais... Moacir Franco dá um show quase solo em seu monólogo assistido por personagens mudos que parecem atores mudos diante de tamanho virtuosismo. E tem mais: Jorge Loredo, Fabiana Carla, Teuda Bara, Ferrugem, muitos outros e, last but not least, Paulo José. A cena de Paulo e Selton na volta do palhaço Pangaré ao circo é antológica: Quem ainda não havia chorado ao longo do filme, com certeza chora nesse momento... Na quinta fui ao Cirque du Soleil assistir ao espetáculo Varekai. Lindo demais. Já tinha assistido ao DVD do show e acompanhado a minissérie, também lançada em DVD, que mostra o processo de criação desse espetáculo da troupe canadense. Agora estou em Presidente Prudente, interior de São Paulo, onde me apresentarei logo mais à noite com a turnê de dez anos da Terça Insana. Essa minha volta temporária à Terça Isana é quase que uma volta ao circo. Me vejo um pouco como o Pangaré de Selton Mello, na sua crise de identidade... A cada fim de semana uma cidade difrente, públicos diferentes, diferentes experiências e reações. Já estava sentindo falta... Minha ligação com o circo vem da infância. Sempre que ia ao circo chegava em casa e começava a reproduzir tudo o que vira... Meus pais não gostavam muito do programa, então quem me levava era um amigo do meu pai, o Seu Lothar. Íamos, Seu Lothar e eu, sob o frio inverno de Soledade, debaixo de grossa neblina, assistir aos mais mambembes e fuleiros circos que chegavam à nossa cidade... Anos depois, em Paris, tive o privilégio de estudar na École Nationale du Cirque, de Annie Fratellini... Mas há coisas que, se a gente as abandona, depois não tem mais como retomar. Quando já estava morando em São Paulo tentei recomeçar as aulas de acrobacia na Escola do Circo, que ficava ali no final da Cidade Jardim, mas, infelizmente, recomeçar a acrobacia depois de quase dez anos parado quando já se tem trinta anos, fica bem complicado... Dói tudo! Por isso me deleito assistindo ao que outros artistas fazem nessa área da atuação que amo tanto. Varekai foi meu quarto espetáculo do Soleil. O primeiro a que assisti, e nem me lembro o nome, foi quando morava em Paris, no começo dos noventa, quando eles ainda não eram essa multinacional toda e se apresentavam no Cirque d'Hiver, um circo antigo de alvenaria que vale a pena conhecer quando se vai à Cidade Luz. Depois assisti ao de Orlando, La Nouba, de novo em Paris Alegria e, na quinta-feira passada, Varekai em São Paulo... Enquanto escrevo esse texto no meu quarto de hotel do interior, ecoam na minha cabeça os versos: Hoje tem marmelada? Tem sim senhor... Impossível não lembrar também dos álbuns Drama e Drama Terceiro Ato, de Maria Bethânia: Todo mundo vai ao circo, menos eu, menos eu...


Por isso, senhores, vos peço: Não deixe o circo morrer, não deixe o circo acabar!


Nas fotos, o impressionante número aéreo dos gêmeos de Varekai e os palhaços Selton e Paulo José.