quinta-feira, 30 de junho de 2011





QUITTER PARIS...
Se existe uma coisa a qual eu sempre tenho dificuldade de fazer, essa coisa é deixar Paris, como diz o título do post em francês. Tenho um amor tão grande por essa cidade que, a cada vez que volto a visitá-la, cresce minha vontade de permanecer. No início dos anos noventa morei por um ano em Paris e me apaixonei... Depois, fiquei muito tempo sem voltar e, desde o ano de 2007, tenho vindo regularmente uma vez por ano. E sempre sofro na hora de partir... Deixar Paris é deixar sua beleza, sua história e sua cultura. Deixar Paris é abrir mão de uma sequência interminável de bons acontecimentos de toda natureza. Deixar Paris é como se separar de alguém a quem se ama. É ficar um longo tempo sem fazer o que mais se gosta. É não beber mais o seu champanhe preferido. Não encontrar um amigo a quem muito se quer. Não ver a lua banhando telhados da sua janela. Não se surpreender com a beleza das flores e dos jardins. Deixar Paris é como uma espécie de castigo que alguém nos impõe, como, por exemplo, ficar meses sem ir ao cinema. Ou ao teatro. Não ouvir mais alguém te dizer: Bonjour, Monsieur! Deixar Paris é como um resfriado que te deixa prostrado. É como uma saudade que aperta o peito. É como não poder sair com seu amigo todas as noites para beber no mesmo bar. Ou para jantar todas as noites em um restaurante diferente. É não ver a mesma velha sentada todos os dias na mesa do mesmo café. É não passar no 4Pat para dizer salut ao Julien. É acordar o enorme gato, velho e gordo, que dorme tranquilo na vitrine da farmácia. Deixar Paris é como não poder comparecer a um jantar de aniversário. A uma soirée entre amigos. A uma degustação de vinhos na cave de um bar branché. A um happy-hour no bar de um hotel de luxo. Deixar Paris é ficar atônito e desolado como uma criança a quem se rouba o doce ou o brinquedo. Deixar Paris é como uma coisa inevitável sobre a qual não se tem controle: Como envelhecer. Deixar Paris é como o tempo, que não pára. Nunca paramos de deixá-la, para podermos reencontrá-la sempre, sublime, majestosa, a nos esperar...E, como tudo na vida tem seu lado bom, deixar Paris é, também, a perspectiva de voltar a vê-la um dia. Com tudo o que ela tem de bom. Seus cheiros e boulevards. Suas canções tocadas por algum acordeonista na rua. Ou no Metro. Suas pontes e suas maravilhosas atrizes. É quem sabe, um dia, rever Fanny Ardant assim, por acaso, passando na rua. É encontrar amigos e conhecidos em incríveis coincidências. É descobrir sempre novas ruas que levam a novos lugares que você nem sonhava que existiam. E que passarão a ser os seus novos lugares preferidos para sempre...Deixar Paris também pode ser imaginar, da janela do avião, a cidade cantando para você os versos de Jacques Brel: Ne me quitte pas, ne me quitte pas, ne me quitte pas...

segunda-feira, 27 de junho de 2011












COMÉDIE-FRANÇAISE ET CAETERA...
Sem muito tempo para escrever tudo o que gostaria... Aliás, acontecem tantas coisas o tempo todo em Paris que algumas, se não anoto, acabo esquecendo de contar aqui no blog. O sábado, por exemplo, foi um dia cheio, com direito a parada gay à tarde e Comédie-Française à noite para assistir à montagem da L'Opera de quat-sous, de Brecht. Fiquei encantado com o espetáculo, que tem três horas de duração, mais intervalo, mas que não senti passar. A música de Kurt Weill, que amo desde sempre, maravilhosamente cantada por atores que, de tão profissionais, parecem cantores. Destaque para Sylvia Bergé, que faz Jenny, a dona do bordel, e interpreta a Canção de Salomão sozinha em cena, em lágrimas, sentada em uma poltrona. Já está no meu arquivo de cenas inesquecíveis... Adoro ir à Coméide-Française. A sala é magnífica, os atores, excelentes e os espetáculos invariavelmente são bem feitos. Às vezes posso até não gostar da mise en scène, como foi o caso da montagem de Les Oiesaux, de Aristófanes, a que assisti no ano passado. Mas essa Ópera dos Três Vinténs eu amei... É claro que, como sempre faço, cheguei cedo e fiquei fazendo hora bebendo em um café. No caso, o Café de la Comedie, em frente ao teatro, que serve taças de Deutz, meu champanhe preferido. Tanto que nosso amigo Fred Mallet me apelidou Miss Deutz... Faço jus ao meu codinome sorvendo coups e mais coups dessa maravilhosa bebida. Enquanto bebia minhas Deutz em frente à Comédie, fiquei lembrando da primeira parada gay de São Paulo. Eu e meus colegas do Grupo XPTO, que estávamos em cartaz no Sesi da Avendia Paulista com o espetáculo O Pequeno Mago, saímos da peça e fomos para a parada ajudando a segurar a bandeira do arco-íris...Quando passamos em frente ao Masp, que exibia uma grande exposição de Monet, lembro que gritei, diante do cartaz: Monet também é gay! Imediatamente se tranformou em uma palavra de ordem, com todos os participantes gritando hey, hey, hey, Monet também foi gay! Saiu até na coluna do André Fischer, que, à época, escrevia na Revista de Domingo, da Folha de São Paulo. Só que ele não sabia que fui eu quem começou... Sem muito tempo para escrever, como já disse acima. Mas querendo compartilhar tudo o que acontece. Outro dia estava em um restaurante que fica à coté du Beaubourg, percebo um entra e sai de orientais super fashion, quando um deles faz sinal e pára um Mercedes preto em frente ao restaurante, num local onde não passa carro, para buscar quem? Yohji Yamamoto, em pessoa. Ouço murmúrios e sussuros até que alguém grita seu nome, ele acena discretamente, entra no carro e se vai. Ainda tonto do que houvera, a cabeça em maresia, vejo passar Thiago Pethit e me pergunto se era mesmo ele de tão inserido que estava no contexto da cena. Depois ele me confirmou que era... Aah! Fui, semana passada, com meu amigo João Faria, participar de uma desgustação de vinhos na cave do Le Fumoir, cujo dono é o mesmo do restaurante onde João trabalha, La Gazzetta. E mais não conto. Ou melhor, conto. Mas em outra oportunidade...À bientôt!



Nas fotos, integrantes do entourage fashion de Yamamoto, mon champagne préféré e a magnífica sala da Comédie Française...

sexta-feira, 24 de junho de 2011









TRANCHES DE VIE...
O Rond Point é uma praça redonda que fica na parte baixa da Avenue Champs Élysées e a liga com várias outras avenidas. Próximo a ela está situado o Théâtre du Rond Point, que adoro frequentar porque possui várias salas com espetáculos sempre interessantes. Agora, por exemplo, estou esperando para assistir à peça Orgueil, Poursuite et Décapitation, de Marion Aubert. Como sempre faço, cheguei mais cedo e faço hora bebendo champanhe no bar do restaurante, que fica no subsolo e está sempre cheio de pessoas que parecem interessantes...
Gostei muito do espetáculo a que assisti no Rond Point, Orgueil, Poursuite et Décapitation. Bom texto, ótimos atores, ótima direção. A autora, Marion Aubert, faz o papel de si mesma e intervém, ora comentando, ora fazendo parte da cena. Não conta própriamente uma história e, sim, expõe fatias de vida de uma familia. Que pode ser qualquer familia. Inclusive a dela. Ou a nossa, expectadores. Fica difícil dizer que adorei, depois de ter sido tocado como fui pela mise-en-scène de Irina Brook para o Peter Pan, de Barrie. Gostei. Mas nem se compara. Sou todo expectativas para a montagem da Ópera dos Três Vinténs, de Brecht e Weill, que irei assistir amanhã na Commédie Française e que tem três horas e vinte minutos de duração. Se eu sobreviver, prometo contar aqui como foi. Brincadeira...
Agora quero falar do déjeuner incroyable que meu amigo João Faria me ofereceu no La Gazzetta, restaurante onde ele trabalha, próximo à Place de La Bastille. João recebe os clientes como se estivesse abrindo as portas da sua própria casa. O restaurante é belo, simples e, ao mesmo tempo, sofisticado. Não pretende ser chic, como a maioria dos restaurantes da moda. Serve bem, com ótima cozinha e bom serviço. Portanto, é chic. Diferente de pretender...
Tive um déjeuner de sonho, com direito a entradas, prato principal, queijo, sobremesas e digestivos. Sim, eu disse entradas. Sobremesas. Digestivos. Foi uma verdadeira degustação. E tudo, claro, acompanhado dos vinhos adequados para tal. Inesquecível... À tout à l'heure!
Nas fotos, detalhes da sala e da decoração do La Gazzetta.

quarta-feira, 22 de junho de 2011









GANHEI O DIA
Hoje o dia amanheceu chuvoso, eu já estava quase me resignando a ficar em casa ou a ir ao cinema quando, lá pelo meio dia, a chuva deu uma trégua e as nuvens começaram a se dissipar prometendo tempo bom. Saí então para meu bate pernas diário em Paris. Fui até a estação Porte Dauphine do Metro, uma das mais belas e antigas da cidade, com seus vitrais art nouveau, para fotografá-la. De lá subi toda a Avenue Foch, até o Arco do Triunfo, e desci a Champs Élysées em direção ao Rond Point, para comprar ingresso para a peça que quero assistir logo mais à noite. Foi quando, na esquina da Avenue Montaigne, em frente à Maison Gucci, encontro uma das maiores divindades vivas sobre a terra: Minha adorada, idolatrada, salve, salve Fanny Ardant. Eu que, de tão tímido, nunca consigo falar com pessoas famosas, em um ímpeto de coragem abordei-a, cumprimentei-a pelo seu trabalho, me disse um grande admirador seu, ela me apertou a mão, agradeceu, e, num ato de ousadia ainda maior, pedi para fotografá-la e ela acedeu. Fez até pose. Agradeci e segui feliz, nervoso e sem poder acreditar muito que havia tido coragem para tal. Aos poucos fui ficando mais nervoso, rindo sozinho e contando em voz alta, para mim mesmo, o que havia acontecido. Acho que para me convencer de que realmente acontecera. Fiquei lembrando da moça que me abordou ontem à noite, em plena rua, na Fête de la Musique, para me cumprimentar pelo meu trabalho, e do quanto ela me fez feliz. Teria eu feito feliz minha musa Fanny Ardant? Não sei. Mas fiquei muito satisfeito. Acho que superei um limite. E ganhei o dia. Agora comemoro meu feito tomando um chardonay de frente para a Torre Eiffel no charmoso bistrot Chez Francis, entre as avenidas Montaigne e Georges V... Santé!

sexta-feira, 17 de junho de 2011















PETER PAN EM PARIS
Sempre fui fascinado pela história do menino que não queria crescer e fugiu para a Terra do Nunca. Já assisti a inúmeras versões no cinema e no teatro. Até então, o que mais havia me encantado era o filme Em Busca da Terra do Nunca, com Johnny Deep vivendo o escritor J. M. Barrie durante o processo de criação da peça Peter e Wendy. Mas ontem à noite, aqui em Paris, fui assistir à encenação de Irina Brook para o clássico inglês, que ela chamou simplesmente Pan. Encantador. Irina é filha do mestre Peter Brook e herdou do pai não apenas o nome e o talento de encenadora, mas também a sua capacidade de misturar etnias, criando um amálgama de sotaques e culturas capaz de transpor a cena para lugares como a Terra do Nunca com a verdade e o lirismo que só o bom teatro consegue engendrar. Essa encenação quase show de variedades mistura elementos do teatro com a música e o circo de tal forma que não se consegue dizer exatamente onde termina um e começam os outros. Música e teatro misturados do jeito que eu sempre quis fazer, sempre sonhei juntar. Cada ator com seu espaço, seus talentos devidamente aproveitados para a construção da cena. Me deu muita saudade do bom teatro de Maria Helena Lopes, mestra que sabia como ninguém tecer as tramas das histórias resultantes dos jogos e improvisações que ela nos propunha. A peça de Irina Brook tem esse sabor do teatro improvisado, dos jogos infantis feitos com o nível de veracidade que só as crianças são capazes de atingir quando brincam. É lindo e emocionante. Poético e divertido. Dá vontade de assistir novamente. Eu ando bem bobo desde que cheguei em Paris esse ano. Não tenho escrito muito, como da última vez. Ando observando, calado. Ontem fui comer um falafel no Marais, bem na esquina da rue des Rosiers com a rue des Écouffes, onde morei nos anos noventa, e saí procurando um lugar para sentar quando parei em frente ao número 18, prédio onde habitei a janela do primeiro andar. De repente, um rapaz me pergunta: Vous voulez une chaise? Digo que sim e ele entra em sua loja e volta com uma cadeira para mim. Agradeço e me sento em plena calçada, com um falafel e uma Orangina nas mãos, entre grato e incrédulo com o seu gesto. Uma moça passa e me deseja bom apetite. Uma pena a bateria da máquina ter descarregado minutos antes na Place des Vosges, senão pediria para alguém registrar esse momento incroyable. Termino de comer, devolvo a cadeira e agradeço. Ele me deseja bonne journée e sigo meu bate pernas pela cidade. Coisas de Paris. Como um garoto perdido, voando na minha Terra do Nunca. Compro o Pariscope, descubro a peça de Irina Brook e aí vocês já sabem...

quarta-feira, 15 de junho de 2011











CARAVANA HOLIDAY
Para quem não assistiu ao filme Bye, Bye, Brazil, de Cacá Diegues, eu explico: Caravana Holiday era o nome da trupe mambembe que protagonizava a história, formada por Betty Faria, José Wilker, Fábio Júnior e Zaira Zambeli. O filme é incrível e continua atualíssimo, quando se assiste tem-se a impressão de que foi rodado hoje. Mas não é da película de Cacá Diegues que quero falar, e sim da aventura road movie que estou vivendo nos Estados Unidos desde que cheguei aqui para o casamento da minha sobrinha Joana. A caravana segue viagem deixando Bossier City no dia seguinte ao casamento. Minhas três irmãs, meus dois cunhados, meu sobrinho Daniel com a namorada, a irmã do meu cunhado, dois cachorrinhos da noiva, a cachorrinha da minha irmã Rita e eu, todos devidamente acomodados em uma van que foi alugada especialmente para o evento. A volta para Miami foi mais agradável, pois viajamos durante o dia, passando por Pensacola, Baton Rouge, cruzando o Rio Mississipi e entrando em New Orleans para conhecer, ainda que rapidamente, um pouco da cidade. Mais especificamente o Cartier Français e a charmosa Bourbon Street. Impossível não lembrar Sting cantando Moon Over Bourbon Street, do seu primeiro álbum solo pós The Police. Um rápido passeio, algumas fotos e seguimos viagem. A noite começa a cair e a lua quase cheia ilumina o céu e arredores. Ouço Milton Nascimento no disk man. E a gente sonhando... Passamos pelo Golfo do México. Quando amanhece o dia paramos em Orlando para deixar três de nós para conhecer a Disney e seguimos para Miami onde chegamos no fim da manhã. Passo o dia lá, tomando sol na piscina e à noite saio para beber vinho com minhas irmãs em South Beach, em um daqueles bares da Lincoln Road, com simpáticas mesas nas calçadas. No dia seguinte, mais sol na piscina pela manhã e agora já me encontro devidamente apertado em um vôo da American Airlines que está me levando a Paris. Tudo rápido, porém intenso. Joana é a minha primeira sobrinha que está se casando e reunir a família, ainda que não inteira, especialmente para esse evento, foi divertido e emocionante. Uma grande pena meus pais não estarem mais conosco para verem casar a neta. Mas a vida é assim mesmo, todos temos nosso tempo para desfrutá-la. Agora, por exemplo, terei duas semanas para desfrutar Paris, cidade que adoro... E deixa eu parar de escrever, que esse post já está parecendo um diário, de tão pessoal. À bientôt! À Paris...

Nas fotos, a charmosa Bourbon Street, café no French Quarter e a quente Lincoln Road.

segunda-feira, 13 de junho de 2011





PARECE FILME
Esse é o título do blog da Camila Frender, um dos meus preferidos, e vem seguido do complemento: mas é vida mesmo. Perfeito para definir como me sinto desde que cheguei na Louisiana para o casamento da minha sobrinha Joana, que mora em Miami, mas veio se casar aqui por que a família do noivo, Jacob, é toda natural da pequena Bossier City, onde me encontro. Para todo lado que olho vejo locações de filmes americanos e me sinto como em alguma película de David Lynch, Tarantino ou Robert Altman. Já havia acontecido isso comigo quando fui a Nova Iorque e via Woody Allen em cada esquina. E me dou conta que a imagem que tenho dos Estados Unidos está indissociavelmente ligada ao cinema. Às vezes também me sinto em uma tela de Edward Hopper. Quando as pessoas falam, então, é que tudo fica ainda mais cinema americano e eu imploro por legendas em português, pois não consigo entender nada do que dizem. Aliás, me sinto a última das criaturas por não saber falar inglês, lapso cultural que pretendo reparar assim que chegar na minha próxima encarnação. Ok, francês é lindo, é chic, um charme mesmo. Mas, falando a verdade, quando a gente viaja pelo mundo serve pouquíssimo como opção de comunicação, uma vez que quase ninguém fala essa língua fora da França e mais alguns poucos países francófonos. C'est la vie! Mas que às vezes parece filme, parece...

sábado, 11 de junho de 2011











BONNIE AND CLYDE
Sempre fui fascinado por histórias de casais unidos pelo crime. Antes de conhecer a história de Bonnie e Clyde conheci a música que Serge Gainsbourg compôs sobre a dupla e gravou com Brigitte Bardot. Foi quando fui morar em Paris, no começo dos anos noventa. Mal eu chegara na cidade, morreu Serge Gainsbourg, que eu também não conhecia. Como todo mundo só falava dele, passei a me interessar pela figura e descobri sua vasta e interessantíssima obra musical. Gênio do pop, Gainsbourg fazia de todos os ícones da cultura de massa temas de suas canções. De Harley Davidson aos cigarros Gitanes. Passando por Bonnie e Clyde. Como um Andy Warhol da canção. Foi assim que tomei conhecimento da existência desse famoso casal de bandidos, pois nem aos flmes eu havia assistido. Quem disse que pop art não é cultura? Eis que agora, vinte anos depois, totalmente por acaso, me encontro na cidade onde os dois foram executados: Gibsland, Louisiana. E mais: Conheço o museu, criado e mantido pelo filho do xerife Ted Hinton, comante da emboscada que deu fim à dupla de assaltantes. L. J. “Boots” Hinton recebe os visitantes e conta pessoalmente alguns detalhes da história, sendo ele uma das principais, digamos, “peças” do museu. Fiquei pensando em Lampião e Maria Bonita e lembrei da impagável dupla de vilões da novela Celebridade, de Gilberto Braga, vividos por Claudia Abreu e Marcio Garcia: A cachorra e o michê... Quem quiser assistir ao clipe com Serge Gainsbourg e Brigitte Bardot cantando Bonnie & Clyde, devidamente caracterizados, tem no youtube. Se joga...




Nas fotos, Bonnie, a legítima, toda trabalhada na artilharia pesada. E Gainsbourg e Bardot vivendo a dupla mortal.

terça-feira, 7 de junho de 2011




HOMEM CAVALO
A imagem não me sai da cabeça. Faz parte do espetáculo Babilônia, Il Terzo Paradiso, de Ismael Ivo, a que assisti quinta-feira passada no Sesc Pinheiros. Uma imensa caixa branca a contrastar etnias. Brancos e pretos. Como nas fotografias de Mapplethorpe. De quem Ismael Ivo já foi modelo. A impressionante performance do bailarino Noelle Cotler. A incrível semelhança de Patrick Cubbedge com o bailarino gaúcho já falecido Guelho Menezes, de quem eu era fã nos oitenta/noventa. É com essa imagem que deixo São Paulo rumo a Miami e, depois, Paris. Três semanas na estrada. Fujo do inverno, que este ano já começou cedo e com tudo. Teve também o experimento/improviso de Henrique Dias e do Coletivo Improviso, Otro, a que assisti no domingo. Teve o almoço na Serra da Cantareira, no sábado. Sempre que vou viajar fico nesse clima de despedida dias antes. Teve três bota-foras no Ritz: Sábado, domingo e segunda... Espero voltar melhor do que estou indo. Mais aberto, vivido, crescido. Experimentado. Renovado. Espero também seguir alimentando esse blog, mesmo que, às vêzes, me sinta falando sozinho. Prometo contar tudo. Ou, pelo menos, um pouco de tudo. Descobrir meu homem cavalo. Minha metade animal, surreal. Meu banquete de sonhos. Minha possível realidade... Boa viagem pra mim. Ou melhor, pra todos nós. Sempre...

quinta-feira, 2 de junho de 2011















SÓ GAROTOS
Histórias de vida de artistas, suas trajetórias do anonimato à fama, sempre me interessaram e invariavelmente me emocionam. Foi assim com as biografias de Carmen Miranda, de Maysa e Leila Diniz. Foi assim com a leitura de Pra Sempre Teu, Caio F, que Paula Dipp escreveu em homenagem ao escritor Caio Fernando Abreu. Com Só as Mães São Felizes, de Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, também foi assim. Com Quase Tudo, de Danuza Leão, também. Alguns amigos chegam a pensar que adoro biografias e me presenteiam com elas. Mas não é propriamente de biografias que gosto, e sim de biografados. Suas vidas. Seus sentimentos. Angústias. Crises. Sucesso, reconhecimento. Tudo isso envolve emoções que me tocam profundamente. Senão como artista, como público leitor. Terminei nesse instante a leitura de Só Garotos, de Patti Smith, história que ela prometeu a Robert Mapplethorpe, antes de ele morrer, que escreveria. Patti cumpriu o prometido com louvor. Esse Só Garotos é emocionante, envolvente, e tem a capacidade de transportar o leitor – falo por mim – para a cena underground de Nova Iorque dos anos sessenta, setenta e oitenta. Eu não sabia nada sobre ela mas já era fã de Robert há muito tempo. Tenho guardados, até hoje, recortes de fotografias suas que saíram em uma matéria da Veja no final dos oitenta, provavelmente quando da sua morte, que foi em 1989. Sempre me interessaram suas imagens. Intrigantes. Chocantes. Belas. Flores que exalam sexo. Sexos que exalam dor. Fetiche. Sadomasoquismo. Quando você conhece o artista entende melhor a sua obra. Se é que obra de arte é algo pra ser entendido. Chicote enfiado no cú. Auto-retratos. Maquiagem, drag-queens. Androginia. Homem de terno com enorme pau preto pra fora da braguilha. Negros e brancos fazendo contraste. Patti nos conta do começo de tudo isso. Das descobertas de Robert. Sua arte, sua sexualidade, de como chegou na fotografia. De Sam Sheppard, de Andy Warhol, de Bob Dylan, Candy Darling, Sam Wagstaff. De como a Aids chegou ceifando vidas. Do amor que sempre os uniu e revelou seus talentos. É uma linda história de amor e de amizade. Tudo estava para ser feito e descoberto. Para ser lançado, revelado. Os artistas eram originais, criativos. Inovavam com sua arte. Sinto, ao terminar a leitura desse livro, mais ou menos como me senti após assistir ao documentário sobre os Dzi Croquettes: É possível se fazer algo novo hoje em dia? Ser original, renovar, inovar? Só vejo cópias. Lady Gaga querendo ser Maddona. Dá uma certa tristeza de não ter sido artista naqueles anos. Hoje é tudo burocrático. Ninguém mais fala de novos trabalhos. Só de novos projetos. Tudo é projeto, é lei. É enquadrado e repetitivo. Tudo ficou careta. Estabelecido. Artistas não querem romper normas. Parece que tudo o que querem os artistas hoje em dia é se enquadrar. Serem aceitos. Consumidos pelo público. Divulgados pela mídia. Estampados em capas de revistas. Para terem seus projetos parocinados por grandes empresas. E passarem férias na ilha de Caras...

quarta-feira, 1 de junho de 2011





PRIMEIRO DE JUNHO
E o mês de junho chegou trazendo frio a São Paulo... Pela primeira vez, desde que moro aqui, está fazendo mais frio em Sampa do que em Porto Alegre, de onde vim com a mala e a cuia há quinze anos atrás. Mas, pelo menos, tem sol. E frio com sol até que é gostoso. Como sou muito mais fã do calor do que do frio, e o vulcão da Biork parece ter dado uma trégua, vou dar uma rápida escapada para curtir um pouco do verão americano e europeu... Mas, tenho ótimas lembranças do mês de junho por aqui. Principalmente da minha infância, quando fazia e ia a festas de São João em Soledade, onde a temperatura nessa época do ano era baixíssima naqueles tempos. Junho é também o mês de Santo Antonio, meu querido santo de devoção. Mês dos namorados, dos aniversários do Sérgio, do Weidy e da Shala. Mês seis, a metade do ano. Já deu pra perceber a falta de assunto que me acomete nesse primeiro dia de junho, não? A cidade de São Paulo amanheceu com greve de trens, um ex-BBB foi assassinado em sua chácara no interior do estado com um tiro na nuca, o Zeca Camargo segue emagrecendo com a dieta do Fantástico e eu não sei mais o que dizer. Só me resta desejar um bom mês a todos e esperar que o inverno não seja tão rigoroso quanto se anuncia...

Nas fotos, junho de 2010 em Paris e maio de 2011 em Porto Alegre.